sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ontem, 06 de fevereiro de 2009, ao abrir minha página do Orkut, li; sorte de hoje: "Um homem sem conhecimento é como um selvagem da floresta." Fiquei indignada, não tinha autoria.
Como é possível um homem inteligente dizer que "um selvagem da floresta não tem conhecimento".
Os selvagens da floresta têm conhecimento SIM. Esse conhecimento não é científico, não é igual aos dos seres letrados, mas é conhecimento valioso, pois esse 'selvagem' é muito mais inteligente do que nós, que agredimos o nosso planeta com toda má sorte de porcarias criadas para o nosso bem-estar, para facilitar nossas vidas e bla bla bla bla... Só que em nome do progresso, de um futuro saudável, nós construímos o nosso purgatório e de nossos sucessores q continuarão a nossa obra progressista globalizada cientificamente, a destruir as matas, a poluir os mananciais de água doce potável, a encharcar o ar e solo com todos os venenos q criamos para nós mesmos. E tem mais.... muito mais porcarias que o homem com conhecimento faz consigo e os outros humanos, selvagens, animais Terra, Ar, Água.....
E a nossa Mãe Natureza continua a abrigar esse selvagem sem conhecimento e o homem letrado com conhecimento, mas desumano, inconsequente, orgulhoso, talvez ingênuo, querendo brincar de DEUS. Eu moro no meio da floresta amazônica e conheço o selvagem analfabeto que vive aqui, e ele não é um ignorante, é um ser humano.
Ah! até os animais selvagens possuem conhecimento, por instinto ou sei lá porque, mas possuem.
Eles são sábios em seu habitat natural, saqueado pelos homens cheios de conhecimentos e ávidos por destruição.
Um homem sem conhecimento é um homem q já morreu.
Vera Freitas

PATCHWORK
Numa noite com Tom Zé, Adélia Prado e Wood Allen me lembrei de quanto sou triste. E quanto desejo sem força nos músculos poder deitar num mato virgem sem ter medo de inseto.Sempre quis ser assim, livre. Ter toda à sabedoria para poder me desfazer dela.Há um ardor que chamam de frio e que me corta feito lança sangrando o centro do meu estômago. Não quero mãos suadas, pés gelados e garganta enforcada!Não quero saber de saber, que saber, o saber.Quero o céu dos meus Currais brilhando sem parar a pilha.Quero a presença calada de painho e sua alma sintonia "am".Quero um ar que não me tome, me preencha.Não sei decorar poesia, nem sei guardar a emoção pra requentar nojantar. Vivo agora, e amanhã,(?) talvez.O que não posso nunca, é esquecer das flores dos Ipês, que sempre brotarãoem minh´alma.Na alma da minha mais linda amizade, na alma do meu filho, João.Na memória do cheiro de sabote da roupa de mainha.Segurança intra-uterina, patrocínio "lux luxo".E assim sigo a noite me desfazendo em poucos retalhos.Quiçá um dia uma linda colcha.
Autora: Adélia Danielli

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Paisagem de interior
Jessier Quirino
Matuto no mêi da pistamenino chorando nurolo de fumo e beijucolchão de palha listradoum par de bêbo agarradopreto véio rezadorjumento jipe e tratorlençol voando estendidoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Três moleque fedorentomorcegando um caminhãochapéu de couro e gibãobodega com surtimentopoeira no pé de ventotabulêro de cocadabanguela dando risadadas prosa do cantadorbuchuda sentindo dorcom o filho quase paridoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Bêbo lascando a canelaescorregando na frutanum batente, uma matutaareando uma panelacachorro numa cadelase livrando das pedradaciscador corda e enxadana mão do agricultorno jardim, um beija-flornum pé de planta floridoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Mastruz e erva-cidreiradebaixo dum jatobámenino querendo olharas calça da lavadeiraum chiado de porteiraum fole de oito baixopitomba boa no cachoum canário cantadorcaminhão de eleitorcom os voto tudo vendidoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Um motorista cangueiroum jipe chêi de batataum balai de alpercataporca gorda no chiqueiroum camelô trambiqueiroavelós e lagartixabode véio de barbichabisaco de caçadorum vaqueiro aboiadorbodegueiro adormecidoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Meninas na cirandinhaum pula corda e um tocavarredeira na fofocauma saca de farinhacacarejo de galinhanovena no mês de maiovira-lata e papagaiocarroça de amoladorfachada de toda corum bruguelim desnutridoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Uma jumenta viçandojumento correndo atrásum candeeiro de gásvéi na cadeira bufandoradio de pilha tocandoum choriço, um manguzáum galho de trapiácarregado de fulôfogareiro abanadorum matador destemidoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Um soldador de paneladebaixo da gameleirasovaqueira, balinheirauma maleta amarelarapariga na janelacasa de taipa e latadanuvilha dando mijadana calçada do doutortoalha no aquaradorum terreiro bem varridoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.
Um forró de pé de serrafogueira milho e balãoum tum-tum-tum de pilãoum cabritinho que berrauma manteiga da terrazoada no mêi da feirafacada na gafieiramatuto respeitadorpadre, prefeito e doutoros home mais entendidoisso é cagado e cuspidopaisagem de interior.